Educar um filho é estar numa relação tão próxima que acontece desde o momento que os pais decidem que o vão ter. Não se educa apenas quando o filho vai para a escola, mas desde que os pais preparam o seu nascimento e logo no primeiro minuto de vida.
O bebé dentro da mãe é envolvido por duas sensações básicas, o tacto e o som, e através deles sente o que se passa no mundo cá fora e no interior da mãe. Sente e vive. Mesmo que não haja uma discussão verbalizada entre pai e mãe, em que um e outro se agridem com palavras, se a mãe estiver triste, zangada, o bebé sente. O mesmo acontece quando as mães estão sujeitas a determinados tipos de pressão no trabalho. O bebé não domina a nossa nomenclatura de sentimentos, mas o que acontece é que o bebé sente e terá uma sensação de mal-estar face a situações desagradáveis e terá prazer com sons, tons agradáveis e sensações aconchegantes.
A fantasia é importante, mas vivemos num mundo real e isso implica que pai e mãe, marido e mulher, às vezes se zangam. Nesse mundo real, o mais importante é sermos autênticos, tentarmos dizer o que sentimos e receber do outro, com honestidade e amor, o que é que ele sente. A discussão em si não é obrigatoriamente má, o que é mau é o que fazemos com esses momentos. Discutir não é mau, humilhar e magoar são.
Se pensarmos nas nossas vidas, todos nós por vezes discutimos e não estamos de acordo. Quando os pais sentem os seus filhos inquietos devem conversar. O segredo e a mentira, criam muito mais patologias do que a discussão em si.
Se o casal decide divorciar-se, vai ser preciso dizer muitas vezes que o pai e a mãe continuam a gostar muito dos filhos e vão continuar a ser seus pais. É preciso dizer é que não concordar, não significa estar em pontos diferentes. Há discussões que os pais não devem ter à frente dos filhos? Definitivamente. Há discussões que podiam ser evitadas? Sim. Os miúdos percebem o que é não concordar, o que não se pode fazer é humilhar.
Psicologicamente, há um conjunto de papéis que têm a ver com o pai e outro que diz respeito à mãe. Por vezes, as mães, num processo inconsciente, querem manter a relação simbiótica (quando o bebé nasce, mãe e bebé ficam muito unidos. Não são um, mas são quase um) e existem mães que por vezes acabam por afastar o pai. Este tem um papel necessário e organizador, porque faz com que se abra o leque de relacionamentos do bebé, uma vez que representa ele próprio e também o mundo.
A manutenção por tempo excessivo da relação simbiótica não é útil, nem bom, e nem ajuda a criança a ser segura porque há uma dificuldade na separação; e nós, em toda a vida, temos momentos de separação, num sentido de autonomia. As mães precisam dar lugar aos pais. Às vezes os pais até têm iniciativa, as mães é que não deixam. Há mães que dizem que o filho só se acalma com elas. É bom que ela possa acalmar o seu bebé, mas deve ficar contente quando o pai é capaz de acalmar o seu filho.
Na psicologia, a voz do pai é o introduzir da autoridade, o tal “não” que introduz a regra e que ajuda e é necessário ao crescer. A mãe exige um conjunto de condutas de regras aos seus filhos, por outro lado, os pais já não são apenas a regra, mas também o carinho. Há, em termos psicológicos, uma função paterna e outra materna, mas não significa que a materna seja cumprida pela mãe em exclusivo e a paterna seja exclusividade do pai.
Felizmente somos em algumas coisas como os nossos pais, mas não somos os nossos pais. Somos o lugar onde nascemos e crescemos, as pessoas com quem convivemos, os grupos onde tivemos oportunidade de participar, e também somos aquilo que temos de único e exclusivo. Costuma-se dizer que o homem é um ser bio psicossocial. É a coisa mais fria para dizer sobre um ser humano. Mas é biológico, porque tem um corpo, é psico, porque tem emoções e social porque vive em grupo. Um pai que foi batido será um pai que vai bater? Vítimas de pedofilia são futuros agressores? Em alguns casos sim, mas felizmente não em todos os casos. Filhos que sofreram um divórcio são crianças desestruturadas? Não. Mas algumas dessas crianças que passaram por situações traumáticas, tornaram-se crianças com dificuldades? Sim... e outras crianças também... muitos pais ao passarem por um divórcio, acabam por se divorciar dos filhos também. Muitos passam os filhos para segundo plano na sua nova vida de divorciados e isso é algo, que jamais deveria acontecer. O cônjuge que fica com os filhos á sua guarda é muitas das vezes sub carregado, pois o que saiu de casa, afasta-se completamente e na maior parte das vezes, de tudo e de todos, incluindo dos filhos, assim como de todas as responsabilidades, relativas ao qual voltaram as costas. Nos filhos isso é muito sentido e faz feridas muito profundas, ao sentirem-se passados para segundo plano, na vida daquele, em que confiaram toda a sua vida.
“Atenção não há super pais nem pais perfeitos. Ser pai e ser mãe é ajudarmos os nossos filhos a crescerem, a viverem com sentimento, a serem autênticos, autónomos, solidários, responsáveis e gostando de si mesmos e aprendermos, nós pais, também a cresceremos, a vivermos com sentimentos, a sermos autênticos, autónomos, solidários, responsáveis e gostando de nós mesmos”. Assisti a esta palestra e não resisti a escrever aqui acerca dela. A psicóloga Ana Pais, fez um dos seus melhores trabalhos, em minha opinião, neste tema tão interessante e infelizmente muito constante nos nossos dias. Muito mais que comentar, o importante é ler e se possivel corrigir os erros. Fiquem bem. Um beijo. PAULITA.